UMA VELHINHA DE CONGAS ME SEQUESTROU !
A sexta feira é realmente um dia místico; uma incógnita produzida pelo universo para alimentar nossa eterna curiosidade.
Bom, lá estava este que vos escreve, no ponto, oito e meia da noite, aguardando a perua ( calma, não se trata de nenhuma senhora da high consumidora de Luis Vuitton não), é minha lotada, e invariávelmente lotada, Van!
Curtia no habitual frio, minha solidão proletária -e classifico esta como uma das piores-quando fui subtamente impactado por uma visão:
Cabelos brancos formando um coque, óculos grandes e arredondados; um rostinho fechado que denotava um eterno mau humor.
Uma blusa branca de lã suicidava se saia adentro e, a saia preta e comprida, por sua vez, terminava o serviço em seus calcanhares.
Por cima da blusa ia um casaquinho marrom aveludado, típico dos que vivem pendurados nos tetos dos brechós, e dava o contraste necessário àquela figura.
Debaixo do braço direito colado as axilas, ia o que classifiquei de termômetro gigante, ou espada vingadora!
Confesso que jamais havia me deparado com aquele tamanho de sombrinha!
Uma bolsa azul de crochê com duas margaridas ao centro; e a inextinta meia calça bege quase completavam a visão.
Quase, porque algo em mim instintivamente alarmou:-Cuidado, ela vai te chamar de Apolônio!!!!!!!!
Foi quando dei por mim e disse:-Caramba, é a saudosa velha da Praça é Nossa!!!
Na esperança de escapar e não ser contemplado com este nome que todos já conhecem, abaixei os olhos afim de esquivar me, e foi neste momento que a visão se completou e ela subtamente me sequestrou!
Ao olhar pra baixo me deparei com aquele simpático e já extinto calçado, que tanto tivera seus dias de glória em meu passado; ela trazia um "Conguinha em seus pés!".
Eu e a misteriosa senhora fomos de imediato (jamais faria esta viagem sozinho) teletransportados para dentro do Túnel do Tempo.
Voamos e caímos em meados dos anos 80.
Desembarcamos na antiga escola Interventor Benedito Valadares.Agora, apenas Benedito Valadares, pois desinterventaram o Interventor.
Lá, vi a mim e meus amigos correndo pelo pátio da escola, desfrutando e exibindo com orgulho, nosso calçado da moda.
O Conga era a "Havainas" do pequenino cidadão colegial.E as Havainas na época, era calçado só de pobre!
O calçado utilizava um material que não sei definir entre pano comum ou lona, e possuía um design lateral que terminava num bico saliente de borracha.
A velhinha continuava sua missão de coadjuvante, e ao meu lado, observava tudo.
Vi meus amigos correndo e colocando à prova aquela arma dos pés!
Tínhamos pés de atleta.
Senti saudade quando a professora gritou:- Vai cair menino! Olha o sapato desamarrado!!!
Ora, não era sapato.Era um CONGA!!!
Mas eu a perdoei, pois no desespero, quem se lembraria de substantivos e regras gramaticais?
E a velhinha lá, incólume!
Vi o Rodrigo, mestre na arte de fazer arte; era vítima constante de lesões nos pés.
Ao crer que aquele calçado o livraria de suas traquinagens pecaminosas, pulou da escada que dava acesso ao pátio -denominava se o Homem Aranha- e ao cair, quebrou mais uma vez o pé direito.
E eu, qual a um desenho animado, levantei a plaquinha:-"Já sabia!"
O Conga para nós era mais que o Bozo ou o He Man, pois era real e nos concedia um poder místico; uma forma de nos fazer acreditar que dominaríamos o mundo!
Teria Napoleão, Hitler e outros, sofrido de um "efeito Conga às avessas?"
O objeto que tanto nos unia, seria capaz de promover a paz entre Xiitas e Sunitas, Tibetanos e Chineses, a Palestina e Israel, e tantos outros em eterna discórdia?
Num suposto encontro na Casa Branca com o presidente norte americano, poderíamos ofertar lhe um par de Congas, como afirmação da necessidade de paz no mundo?
A verdade é que nunca saberemos o que de fato contribuiu para o desaparecimento do nosso calçado esperança.
Ele pode ter sido vítima da ação do tempo, como acontece às velhas casas e suas ruínas, como também pode ter sido alvo de uma estratégia militar americana (já que possuía poder de pacificação) e encontra se guardado sob oito chaves, em alguma área 51 na terra do Tio Sam.
Vai saber!
-Vai pra Pinheiros?
Assustado, ergui os olhos sem medo, e notei que era questionado sobre o itinerário que vinha estampado no pára brisa da perua.
Agradecido pelo passeio, respondi a ela sem hesitar:-É sim! Vai pra Pinheiros.
E lá se foi minha cúmplice, levando consigo parte de meu passado em seus pés misteriosos.Espero que não tenha chulé!
Foram os oito segundos mais longos que já vivi!
A sexta feira é realmente um dia místico; uma incógnita produzida pelo universo para alimentar nossa eterna curiosidade.
Bom, lá estava este que vos escreve, no ponto, oito e meia da noite, aguardando a perua ( calma, não se trata de nenhuma senhora da high consumidora de Luis Vuitton não), é minha lotada, e invariávelmente lotada, Van!
Curtia no habitual frio, minha solidão proletária -e classifico esta como uma das piores-quando fui subtamente impactado por uma visão:
Cabelos brancos formando um coque, óculos grandes e arredondados; um rostinho fechado que denotava um eterno mau humor.
Uma blusa branca de lã suicidava se saia adentro e, a saia preta e comprida, por sua vez, terminava o serviço em seus calcanhares.
Por cima da blusa ia um casaquinho marrom aveludado, típico dos que vivem pendurados nos tetos dos brechós, e dava o contraste necessário àquela figura.
Debaixo do braço direito colado as axilas, ia o que classifiquei de termômetro gigante, ou espada vingadora!
Confesso que jamais havia me deparado com aquele tamanho de sombrinha!
Uma bolsa azul de crochê com duas margaridas ao centro; e a inextinta meia calça bege quase completavam a visão.
Quase, porque algo em mim instintivamente alarmou:-Cuidado, ela vai te chamar de Apolônio!!!!!!!!
Foi quando dei por mim e disse:-Caramba, é a saudosa velha da Praça é Nossa!!!
Na esperança de escapar e não ser contemplado com este nome que todos já conhecem, abaixei os olhos afim de esquivar me, e foi neste momento que a visão se completou e ela subtamente me sequestrou!
Ao olhar pra baixo me deparei com aquele simpático e já extinto calçado, que tanto tivera seus dias de glória em meu passado; ela trazia um "Conguinha em seus pés!".
Eu e a misteriosa senhora fomos de imediato (jamais faria esta viagem sozinho) teletransportados para dentro do Túnel do Tempo.
Voamos e caímos em meados dos anos 80.
Desembarcamos na antiga escola Interventor Benedito Valadares.Agora, apenas Benedito Valadares, pois desinterventaram o Interventor.
Lá, vi a mim e meus amigos correndo pelo pátio da escola, desfrutando e exibindo com orgulho, nosso calçado da moda.
O Conga era a "Havainas" do pequenino cidadão colegial.E as Havainas na época, era calçado só de pobre!
O calçado utilizava um material que não sei definir entre pano comum ou lona, e possuía um design lateral que terminava num bico saliente de borracha.
A velhinha continuava sua missão de coadjuvante, e ao meu lado, observava tudo.
Vi meus amigos correndo e colocando à prova aquela arma dos pés!
Tínhamos pés de atleta.
Senti saudade quando a professora gritou:- Vai cair menino! Olha o sapato desamarrado!!!
Ora, não era sapato.Era um CONGA!!!
Mas eu a perdoei, pois no desespero, quem se lembraria de substantivos e regras gramaticais?
E a velhinha lá, incólume!
Vi o Rodrigo, mestre na arte de fazer arte; era vítima constante de lesões nos pés.
Ao crer que aquele calçado o livraria de suas traquinagens pecaminosas, pulou da escada que dava acesso ao pátio -denominava se o Homem Aranha- e ao cair, quebrou mais uma vez o pé direito.
E eu, qual a um desenho animado, levantei a plaquinha:-"Já sabia!"
O Conga para nós era mais que o Bozo ou o He Man, pois era real e nos concedia um poder místico; uma forma de nos fazer acreditar que dominaríamos o mundo!
Teria Napoleão, Hitler e outros, sofrido de um "efeito Conga às avessas?"
O objeto que tanto nos unia, seria capaz de promover a paz entre Xiitas e Sunitas, Tibetanos e Chineses, a Palestina e Israel, e tantos outros em eterna discórdia?
Num suposto encontro na Casa Branca com o presidente norte americano, poderíamos ofertar lhe um par de Congas, como afirmação da necessidade de paz no mundo?
A verdade é que nunca saberemos o que de fato contribuiu para o desaparecimento do nosso calçado esperança.
Ele pode ter sido vítima da ação do tempo, como acontece às velhas casas e suas ruínas, como também pode ter sido alvo de uma estratégia militar americana (já que possuía poder de pacificação) e encontra se guardado sob oito chaves, em alguma área 51 na terra do Tio Sam.
Vai saber!
-Vai pra Pinheiros?
Assustado, ergui os olhos sem medo, e notei que era questionado sobre o itinerário que vinha estampado no pára brisa da perua.
Agradecido pelo passeio, respondi a ela sem hesitar:-É sim! Vai pra Pinheiros.
E lá se foi minha cúmplice, levando consigo parte de meu passado em seus pés misteriosos.Espero que não tenha chulé!
Foram os oito segundos mais longos que já vivi!
Um comentário:
De uma simples volta para casa, entramos junto com você no túnel do tempo! O texto não cehga a ser saudosista, traz uma doçura infantil com o seu estilo. O estilo que só vc tem para escrever.
Apesar de não ter usado Conga (ouço frases agora: "Ohhhh!" ou "Você não teve infância?"), usei muito tênis da Xuxa - aqueles que fediam quando novos e não acendiam as luzinhas quando muito usados - e também muito all star para não nagar o visual "revoltado-esteriotipado" de ser, rs
Beijos da amiga e fã
Alexandra Periard
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