quarta-feira, abril 18, 2007

CONTO---POR ALEX DUVIER

SURREAL-LUZ


Maio de 2000.
Estávamos na sala conversando, eu e Ele.
A luz intensa tomava conta do ambiente, passava pela clara bóia da cozinha, e se encerrava sobre aquela atmosfera, denunciando o céu azul que estava acima de nossas almas.
Na parede o quadro da Santa Ceia, o sofá, de tijolos, contava com duas almofadas retangulares, devidamente encapadas com uma napa preta.
Sentados em suas extremidades, conversávamos sobre a Vida, e principalmente sobre futebol.
Aquele era o lugar onde assistíamos aos jogos, discutíamos, ríamos e chorávamos, mas no final fazíamos as pazes.
Contudo, voltei me para a "Luz" refletida com toda a força em uma das paredes da sala, que insistia em me mostrar algo além do que era capaz de ver.
À direita Dele, no alto da estante de madeira estava a tv, a esquerda um telefone sem linha e, no centro, um elefante branco feito de gesso.Um daqueles presentes que não se
pode recusar.
Assustado, vi que próximo à porta de entrada da cozinha, no antigo sofá de madeira, havia se acomodado uma pessoa, um alguém que não consegui identificar, mas parecia ser amigo.
Num breve instante, o "novo amigo" me ofereceu uma bebida, mas recusei, temendo que Ele fosse se zangar comigo.
Embora a tv estivesse ligada, e os canais fora do ar, pude ouvir nitidamente a canção que ecoava de seus alto falantes; era Monte Castelo(Legião Urbana): "Ainda, que eu falasse a língua dos homens, e falasse a língua dos anjos, sem Amor eu nada seria!".
Naquele instante, ouvindo a canção e vendo a "Luz", notei que tudo estava esclarecido e pude então dizer: "-Que pena...Que pena que isto não passa de um sonho!".
Então "acordei" naquela manhã de domingo, e deitado no mesmo sofá, me lembrei que na tarde anterior havia visto aquela "Luz!".
Era o pôr do sol num cemitério, e Ele estava lá, pois sua missão havia chegado ao fim.
Eu havia acabado de sepultar, o meu próprio Pai!.

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